CNN tem acesso a aplicativo em que venezuelanos podem denunciar espionagem

Diante do aumento da tensão com os Estados Unidos, a Venezuela parece estar incentivando os cidadãos a espionarem uns aos outros, utilizando um aplicativo para denunciar pessoas ou atividades suspeitas.

O software, chamado VenApp, foi lançado originalmente pelo ditador venezuelano Nicolás Maduro em 2022 como um aplicativo híbrido, integrando um serviço de mensagens com uma linha direta para que as pessoas relatassem problemas com serviços públicos, como quedas de energia e interrupções no fornecimento de água.

Agora, ele também está sendo usado como uma ferramenta para que os venezuelanos informem o regime sobre, por exemplo, avistamento de drones ou “pessoas suspeitas”, o que gerou alarme entre os opositores de Maduro e grupos de direitos humanos sobre um possível aumento nas prisões políticas.

“Essa iniciativa representa uma séria preocupação com a privacidade, a liberdade de expressão e a segurança, pois promove um sistema de vigilância social e a militarização da ordem pública”, escreveu o grupo ativista online Venezuela Sin Filtro em um comunicado.

O Ministério da Informação da Venezuela não respondeu a um pedido de comentário sobre as críticas ao aplicativo.

No mês passado, Maduro convidou as Forças Armadas do país a supervisionarem a criação de “um novo aplicativo, para que as pessoas possam relatar com segurança tudo o que ouvem e leem”.

Em uma semana, a atualização foi implementada.

App para denunciar atividades na Venezuela

Quando protestos de rua generalizados eclodiram após essa eleição, Maduro convidou os cidadãos a usarem o VenApp para denunciar atividades da oposição. Grupos de direitos humanos, como a Anistia Internacional, criticaram a medida.

A Anistia alertou que o aplicativo poderia ser usado “não apenas para limitar o direito das pessoas à liberdade de expressão e reunião pacífica, mas também para potencialmente contribuir para prisões ilegais, detenções e outras graves violações dos direitos humanos”.

A polêmica levou a Apple e o Google a removerem o VenApp de suas lojas de aplicativos.

Mas, embora não pudesse mais ser baixado, o aplicativo nunca deixou de funcionar: aqueles que tinham o VenApp antes de agosto de 2024 ainda podem acessá-lo em seus smartphones, e o governo também criou e patrocinou uma versão móvel que funciona em navegadores de internet.

Na capital, Caracas, a CNN teve acesso ao aplicativo, uma rara oportunidade para analisá-lo.


Cidadãos da Venezuela podem denunciar problemas em serviços públicos, avistamento de drones e pessoas suspeitas no VenApp
Cidadãos da Venezuela podem denunciar problemas em serviços públicos, avistamento de drones e pessoas suspeitas no VenApp • VenApp

Entre os usuários do VenApp que apoiam os objetivos do regime está um morador de uma favela na periferia de Caracas, que falou anonimamente à CNN, temendo represálias por conversar com um jornalista estrangeiro — ou ainda sofrer algo de opositores de Maduro.

O aplicativo funcionou perfeitamente para resolver problemas com serviços públicos, relatou ele à CNN, e não hesitaria em usá-lo para informar outros venezuelanos se sentisse que o país estava sob ataque de forças estrangeiras.

“Estamos preparados para defender a pátria, nosso país, como os bons revolucionários que somos!”, pontuou o homem, que tem cerca de 50 anos e faz bicos na vasta “economia informal” da Venezuela.

Entretanto, também há aqueles que olham com desconfiança para o aplicativo.

“Eu jamais pensaria em baixá-lo. É assustador que agora exista um aplicativo para os cidadãos denunciarem uns aos outros”, disse uma apoiadora da oposição à CNN, também sob condição de anonimato.

“Além disso, como podemos ter certeza de que o aplicativo não está nos espionando? Este é um governo que espiona seu próprio povo”, pontuou a mulher, de cerca de 40 anos, que trabalha para uma empresa privada de mídia.

Organizações de direitos humanos também reforçaram suas críticas ao aplicativo, expressando preocupação com a perseguição à dissidência em um país onde mais de 800 pessoas estão presas por motivos políticos, segundo a organização de direitos humanos Foro Penal.

O regime de Nicolás Maduro nega manter presos políticos.

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